Miguel Martins, o poeta preferido das donas de casa e dos terroristas
de esplanada, não tem razões de queixa da biologia, de Deus ou da sociedade.
Aposta tudo num queixume cínico, num amor sem intimidade, consigo e com os
outros, de periodicidade semanal, como a lotaria, e, semestralmente, calha-lhe
ser milionário durante algumas horas. Os seus versos comunicam a
incomunicabilidade do que não quer dizer e quase asfixiam as palavras que
escreve. Por isso, são amigos das impotências alheias e não se atrapalham
diante de carteiristas e guardas prisionais, empregados bancários, ilustres
académicos e outros poetas igualmente viciados no poder vivífico do
clorofórmio. A isto acrescem, ainda, duas outras virtudes (o sortudo!) que
muito lhe têm valido nos apertos bancários: tem um jeito inigualável para comprar roupas em saldo e fica bronzeado
num instante.
Miguel Martins
29/06/2018
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