Essa admirável, flexível, tão modesta, capacidade de se abraçarem de
costas, onde foram buscá-la, ó filhos do bom Deus?
Nem Friedrich Ludwig Jahn, o romântico pai da ginástica patriótica,
ousou pretender mais que uma Alemanha em espargata,
ao passo que vós, poéticos burgueses de todas as liberdades, que emanam
da cerveja ou de consciências dominicais,
quereis impor-nos desportos impossíveis, como a amizade em toque de
estafeta e a natação dessincronizada.
Parada ideal dos indivíduos em massa, mural renascentista e arte povera, procissão da fé agnóstica
ou herética,
eis-vos pelas ruas, pelos jornais, muitos e um só, em solidariedade multidireccional.
Aparentemente, é uma evidência colectiva que essa trompete de pistões
ferrugentos é bisneta de Bach por aborto espontâneo,
e que ou bem que o velho mestre se revê nessa estúrdia ou não há que
hesitar em chamá-lo à pedra, a ver se tem sentimentos pelos arbustos.
Eu, que andava para trás com o olhar no tempo e um ponto de
interrogação tatuado na nuca,
embati num murete e acho-me parado — a morte marca passo neste sítio
inexacto,
atoleiro de andores demasiado leves para a ciência da guerra, pirómanos
basbaques e fogos de artifício.
Mas, entretanto, leio; entretanto, creio. Nada me demove de sofrer. Um
velho rebentando de alegria.
Miguel Martins
15/01/19
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