para onde nasce o sol e primeiro desmaia,
cada pegada em frente é hoje dada atrás,
contemplando o passado e o que lá ficou,
o peso da leveza do que cedo se acaba.
A morte era uma seta que ainda ia no ar
mas o fim de cada dia, cada semana ou mês
prenunciava já a inapelável perda
dos que vivemos a bordo de um corpo mais que brando,
incapaz de vencer a ventania.
Nem um pentelho ruivo, nem um carro blindado,
nem um travo de fé, revisto e aumentado
— nada resgataria a comissura
do que passou ao largo, terra adentro.
Se não se pode voltar ao que não foi,
se não se pode morar onde não há,
se não se pode lamber o sangue à pedra,
que tal roer a unha até à paz?
Miguel Martins
20/07/2019
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