domingo, 21 de julho de 2019

No areal da infância, para Leste,
para onde nasce o sol e primeiro desmaia,
cada pegada em frente é hoje dada atrás,
contemplando o passado e o que lá ficou,
o peso da leveza do que cedo se acaba.

A morte era uma seta que ainda ia no ar
mas o fim de cada dia, cada semana ou mês
prenunciava já a inapelável perda
dos que vivemos a bordo de um corpo mais que brando,
incapaz de vencer a ventania.

Nem um pentelho ruivo, nem um carro blindado,
nem um travo de fé, revisto e aumentado 
— nada resgataria a comissura
do que passou ao largo, terra adentro.

Se não se pode voltar ao que não foi,
se não se pode morar onde não há,
se não se pode lamber o sangue à pedra,
que tal roer a unha até à paz?

Miguel Martins
20/07/2019

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