quinta-feira, 27 de novembro de 2025

O livro que comecei agora a traduzir, sobre estética das artes plásticas contemporâneas, tem uma série de reflexões que, no meu entender, ajudam a explicar a Favola da Medusa e que dizem de outro modo coisas que tenho tentado dizer ao longo dos anos: por exemplo, que o som é um resultado e não um objectivo, isto é, que se eu saltar para cima de uma mesa e ela se partir, isso produz som e, logo, é música, mas o acto artístico foi o salto. Vejam isto:

O crítico Clement Greenberg, por exemplo, falava das obras do Expressionismo Abstracto como «retratos», como se uma pintura, ainda que abstracta, tivesse de ser um retrato, levantando a questão de qual poderia ser o seu tema, dado que, na verdade, não se pareciam com qualquer objecto reconhecível. A jogada habitual era dizer que o artista pintava os seus sentimentos e não algo visível. Num artigo famoso, o crítico rival de Greenberg, Harold Rosenberg, afirmou que aquilo que os pintores abstractos faziam era realizar uma acção sobre a tela, do mesmo modo que um toureiro realiza uma acção na praça de touros.

O que importa é o acto, não o efeito. O Jorge Lima Barreto tem uma frase que já citei em vários textos, «O jazz vive de intencionalidade e não de conclusão», que me parece dizer a mesma coisa ainda de uma terceira maneira.


Miguel Martins


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