segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Fernando Aires sobre Emanuel Félix



E chega a hora inefável em que se descobre Emanuel Félix, e então, rapidamente, ele se torna o poeta da nossa predilecção. A esse maior poeta vivo das Ilhas, chamo pelo seu nome. E chamo pelo seu nome porque só a um verdadeiro poeta se pode pedir uma definição de fraternidade. É muito bonito falar de fraternidade, mas ninguém ainda se lembrou de fundar uma universidade para explicar às pessoas a difícil arte de amar. Só um verdadeiro poeta sabe falar disso e, de súbito, descobrir que é deus. Dizer: de começo era o nada e do nada criei tudo através das palavras, dos nomes dados às coisas. Dizer: criei os nomes das coisas e ordenei-as a meu gosto no espaço que me destinei. Assim, marquei da minha presença as ruas, as praças, as pessoas da minha cidade. 
(...) São assim os homens - sozinhos desde o início. Sem outra imortalidade senão aquela da infância em que fomos como devíamos ser. Assim, é necessário ler os poetas, os verdadeiros, como Emanuel.
Sabemos todos da pseudopoesia que por todo o lado nos submerge sob a forma de papel impresso e desolação. Mas eis que neste mar de palha se põe a tilintar um sino de prata genuína (...) - e então a gente reanima as cores do rosto e faz multidão à volta do astro caído do céu.


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