quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

 

De um lado, tias de porcelana,

ainda que servas;

do outro, peles de coelho

com chumbos nas veias.

 

Um pé num dócil monstro medievo,

Galápagos nas Beiras;

o outro a exsudar gasosa,

BB,

Frutol,

Cergal.

 

Num colofão

com Timor à ilharga,

as prescrições papais

via sacristania;

num sabugo, arroz,

a palavrosa monda.

 

Como ir no vento,

aristocrata,

rumo aos nenhures de Verne,

flauta na algibeira,

olhos-nenúfares,

se me cruzam o ar com prumos

que são agora gruas

americanas?

 

Disto, não se recua.

Àquele luar,

xistosamente manso,

não há regresso;

àqueloutro, sopra-se a lâmpada

incandescente

e é inextinguível, infindo,

Muralha da China

humilhantemente

só até ao calcâneo,

pista de aterragem

para a volúpia.

 

Resta um filme porno,

— este poema —,

celuloide queimado,

rincão do Império

que nunca existiu

e espilra

sobre um lenço de greda.

 

Miguel Martins

26/01/22

Sem comentários:

Enviar um comentário