sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Não vale a pena ter o que não pode ser comprado.

Ao tomar banhos de sol em Saint-Jean-Cap-Ferrat

ou comer uma ceviche em Villefranche-sur-Mer

jamais pensei em ti, nessa frugal perspicácia

ante a didascália beckettiana, creio,

ou outra baboseira com que fugires da vida.

Palavras de cinco sílabas repousam no cinzeiro

dos cotos de charuto, demasiado cheio,

que a russa ia vazar, quando a interrompi

por preferir um broche, um carrossel de adultos.

Que sabes tu de um broche só brisa na caruma,

que sabes do silêncio humano a dez tostões?

Transístor domingueiro pousado por um velho

no parapeito da ponte antes de se atirar,

e se fosses com ele dar de comer às trutas

que a tua irmã, a russa, depois, me há-de grelhar?

 

Miguel Martins

01/12/23

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