Não pedes de mais,
aceitas o teu quinhão
e as alfaces,
umas viçosas, outras
deslambidas,
que assentaram praça
no acaso
do tempo e do lugar
que te couberam
em sorte ou em azar.
À imprevisibilidade
dos hálitos alheios,
preferes o interior
de um petit monde, o lar
que esforçadamente foste
ameninando
ou o fígado que
almofadas
cheio de tento.
Lês como quem raspa,
com pé-atrás, um nojo
emancipado
ante a
concupiscência,
o lucro mais infame,
e, portanto, elencas,
tintim por tintim,
a litania da tua
abjuração.
Tens sentimentos de tarot
e uma lógica empedernidamente
séria,
não obstante o ketchup no local do crime,
o orgulho na
insolência jactante
e a filharada para
mostrar serviço
sempre que os
ademanes te atormentam.
Activas-te e
aprestas-te,
queres deixar sobre a
terra uma memória de cinza
como a que gostas de
inalar
no silêncio da casa
paterna,
onde toda a abjecção é
confortável,
ou no teu recanto da biblioteca pública.
Não vês?
Não, não vês.
Essas coruscações
multiplicam-te
a idade por três;
é o que acontece com
a Cerelac
quando a
pernosticidade tolda a fome ao bebé.
E, hebdomadariamente,
gritas.
Grita, menino, grita!
Grita para aí até
estourares
com os vitrais da
capela onde rezas sozinho
a Nosso Senhor da Escabiose
Infrene,
sita algures entre o
prelo e a salmodia.
Miguel Martins
31/08/24
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