Não, não morrerei sem voltar a cair.
Não morrerei sem voltar a ferir
os joelhos, a rasgar as nádegas,
sem voltar a consolar-me com a ideia
de que ainda há pouco era pior:
armadilhas para raposas e coelhos
entre os espinheirais ou sob o saibro
e, nas cidades, poças de lama
e o Beco do Quebra Costas, que era só
o Beco q atravessa p.las costas
da see.
Não morrerei sem voltar a beijar
os teus pés nos meus olhos fechados,
sem reler pela primeira vez os poemas
do espanto, sem que, sentado na cama,
adiando um cigarro, volte a descer
o Jardim de Trebah até à praia.
As minhas velas foram perdendo
o alor, o meu calado ressequiu-se
em terra, mas a memória tem
um dínamo infrene que me obriga
a dizer-me e dizer-te logo pela manhã:
Não, não morrerei sem voltar a cair.
Miguel Martins
24/12/24
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