terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Não, não morrerei sem voltar a cair.

Não morrerei sem voltar a ferir

os joelhos, a rasgar as nádegas,

sem voltar a consolar-me com a ideia

de que ainda há pouco era pior:

armadilhas para raposas e coelhos

entre os espinheirais ou sob o saibro

e, nas cidades, poças de lama

e o Beco do Quebra Costas, que era só

o Beco q atravessa p.las costas da see.

Não morrerei sem voltar a beijar

os teus pés nos meus olhos fechados,

sem reler pela primeira vez os poemas

do espanto, sem que, sentado na cama,

adiando um cigarro, volte a descer

o Jardim de Trebah até à praia.

As minhas velas foram perdendo

o alor, o meu calado ressequiu-se

em terra, mas a memória tem

um dínamo infrene que me obriga

a dizer-me e dizer-te logo pela manhã:

Não, não morrerei sem voltar a cair.

 

Miguel Martins

24/12/24

Sem comentários:

Enviar um comentário