segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Janelas Altas

 


Quando vejo um casal de miúdos

E percebo que ele a anda a foder e ela

Usa um diafragma ou toma a pílula

Sei que isto é o paraíso

 

Com que os velhos sonharam toda a vida —

Compromissos e gestos postos de lado

Que nem debulhadora fora de moda,

E toda a gente nova a descer pelo escorrega,

 

Interminavelmente, para a felicidade. Será

Que alguém olhou para mim, há quarenta anos,

E pensou: Isso é que vai ser boa vida;

Nada de Deus, ou de suores nocturnos,

 

Ou medo do inferno, ou ter de esconder

Do padre aquilo em que se pensa. Ele

E a malta dele, c’um raio, hão-de ir todos pelo escorrega

Abaixo, livres que nem pássaros? E de imediato,

 

Em vez de palavras, vêm-me à ideia janelas altas:

O vidro que acolhe o sol, e mais além

O ar azul e profundo, que não revela

Nada e está em lado nenhum e não tem fim.

 

Philip Larkin

(tradução: Rui Carvalho Homem)

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