Espina Christi
Brincam com as
palavras;
melhor dizendo:
maltratam-nas;
procuram-nas
esdrúxulas,
rebuscadas, furiosas
ou dão-lhes acepções
afasicamente
incoerentes.
Querem-se cacofónicos,
filólogos, carbonários
ou crêem-se efluentes
de loucuras alheias.
Esconjuram os
patuscos,
os peraltas, os
canónicos
e, pétreos, abjuram
os jogos florais.
Contudo,
chegado o fim da
tarde,
vão jantar a casa dos
pais,
prenhes de
auspiciosas notícias:
um novo poemário,
uma coluna nos jornais
ou — tcharan — o tão aguardado
noivado “com a vossa preferida…”.
E, entre a emoção e
os condimentos,
eclode-lhes nas
partes pudendas
— “Ui!” —
assertiva e rutilante
hemorróida,
em forma — curioso… —
de mitra bispal.
Pensam: “Espinhosa é
a coroa do redentor”.
E depois (lembrete no
iPhone):
“Comprar NeoFitoroid”,
que, para quem não
sabe, é uma pomada
de fácil aplicação
endorectal.
Miguel Martins
25/09/25
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