quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Espina Christi

 

Brincam com as palavras;

melhor dizendo: maltratam-nas;

procuram-nas esdrúxulas,

rebuscadas, furiosas

ou dão-lhes acepções

afasicamente incoerentes.

 

Querem-se cacofónicos,

filólogos, carbonários

ou crêem-se efluentes

de loucuras alheias.

 

Esconjuram os patuscos,

os peraltas, os canónicos

e, pétreos, abjuram

os jogos florais. Contudo,

 

chegado o fim da tarde,

vão jantar a casa dos pais,

prenhes de auspiciosas notícias:

um novo poemário,

uma coluna nos jornais

ou — tcharan — o tão aguardado

noivado “com a vossa preferida…”.

 

E, entre a emoção e os condimentos,

eclode-lhes nas partes pudendas

                        — “Ui!” —

assertiva e rutilante hemorróida,

em forma — curioso… — de mitra bispal.

 

Pensam: “Espinhosa é a coroa do redentor”.

E depois (lembrete no iPhone):

“Comprar NeoFitoroid”,

que, para quem não sabe, é uma pomada

de fácil aplicação endorectal.

 

Miguel Martins

25/09/25

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