sexta-feira, 3 de outubro de 2025

(Todos os dias)

 


No teu poema

Existe um verso em branco e sem medida

Um corpo que respira, um céu aberto

Janela debruçada para a vida

No teu poema

Existe a dor calada lá no fundo

O passo da coragem em casa escura

E, aberta, uma varanda para o mundo

Existe a noite

O riso e a voz refeita à luz do dia

A festa da Senhora da Agonia

E o cansaço

Do corpo que adormece em cama fria

Existe um rio

A sina de quem nasce fraco ou forte

O risco, a raiva e a luta de quem cai

Ou que resiste

Que vence ou adormece antes da morte

No teu poema

Existe o grito e o eco da metralha

A dor que sei de cor, mas não recito

E os sonos inquietos de quem falha

No teu poema

Existe um canto, chão alentejano

A rua e o pregão de uma varina

E um barco assoprado a todo o pano

Existe um rio

O canto em vozes juntas, vozes certas

Canção de uma só letra

E um só destino a embarcar

No cais da nova nau das descobertas

Existe um rio

A sina de quem nasce fraco ou forte

O risco, a raiva e a luta de quem cai

Ou que resiste

Que vence ou adormece antes da morte

No teu poema

Existe a esperança acesa atrás do muro

Existe tudo o mais que ainda me escapa

E um verso em branco à espera do futuro

 

José Luís Tinoco

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