quinta-feira, 26 de outubro de 2017

4 X Moçalambique, de Manuel da Silva Ramos (Lisboa, Parsifal, 2017)

Nunca tinha visto o poeta Eduardo White, mas quando ele apareceu, alto e bonito, com o cabelo preto muito molhado e bem penteado, simpatizei de imediato com ele.
Eu estava no jardim da Pensão Martins à sua espera, bebendo cerveja e comendo caju. Durante a minha longa e bem preenchida vida, conheci muitos poetas, mas a maior parte eram figuras fracas, enfezadinhas, versejando com a posta espetada no rabo. Muitos nem gostavam de fornicar. Este ao menos bebia forte e transpirava ainda melhor. De maneira que rapidamente nos entendemos e, em menos de um salto de gafanhoto, já estávamos dentro do seu Carocha branco. O White parecia o Lancelote do Lago ao volante do seu Santo Graal. Não conduzia bem nem mal, conduzia pessimamente. Em vários momentos nos abeirámos da catástrofe. Eu ia calado enquanto o meu novo amigo falava do Índico, sua fonte de inspiração. Queria mostrar-mo.
(p. 36)

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Adeus lagostas empanturradas, peixe-papagaio, peixe-galo, peixe-piolho, peixe-soldado, peixe-sono, peixe-sabão, peixe-purgativo, peixe-serra, peixe-moeda, peixe-lua, peixe-frade, peixe-bruxa, peixe-lambão, fritadas voadoras!
(p. 87)

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Sheila levantou-se e deu-lhe dois beijos em cada orelha. Era aí que ele era o mais sensível dos homens, pois só ouvia o que era interessante ou o que lhe interessava realmente. O resto era Charlie Parker. Lover Man.
(p. 97)

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(pp. 132/133)

1 comentário:

  1. Bonitas as palavras de Manuel da Silva Ramos sobre Eduardo White.
    Conheci Eduardo White na Livraria Poesia Incompleta, a mais doce livraria do Mundo e lugar onde fui muito feliz. Na minha inocência ouvi-o falar e lembro-me perfeitamente de pensar: "Já estás todo frito!" Chamou a mãe de meu útero, leu-me um poema e depois disse-me: "És a musa desta livraria, a musa índigena. Dessa raça não sabes donde vens." 👌👌😁😬

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