O novo e importante livro de Francis Fukuyama, ‘Identidades’ (D.
Quixote), tem um esclarecedor subtítulo: ‘A exigência de dignidade e a política
do ressentimento’. No fundo, explica como essa exigência transformou a política
não apenas num combate de ressentimentos mas também de narcisismos. O
narcisismo, como diz, não leva ao fascismo – mas “a uma vasta despolitização da
sociedade em que as lutas pela justiça social são reduzidas a problemas
psicológicos pessoais”. Onde o Estado liberal do século XIX e do século XX
tinha como função promover os direitos básicos, manter a lei e assegurar a
educação, a segurança e a mobilidade – o Estado contemporâneo visa melhorar a
autoestima dos cidadãos, falando-lhes docemente e tratando-os como pacientes
numa sessão de terapia e aconselhamento psicológico. Absurdo? Não. Inclusive,
os próprios eleitores ficam reconhecidos aos políticos quando eles mentem em
serviço, desde que isso os faça sentir melhores, mais otimistas e sem insónias.
O livro de Fukuyama mostra como a vida política se transformou num combate de
ilusões perigosas.
Francisco José Viegas
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