George Haslam / João Madeira / Pedro Castello Lopes / Mário Rua:
“Ajuda” (Slam Records)
Rui Eduardo Paes
O título deste disco (e do seu primeiro tema) vem com tradução inglesa,
“Help”, mas não se trata de um pedido ou de uma oferta de ajuda – alude, isso
sim, ao bairro de Lisboa onde foi gravado, Ajuda. A referência alfacinha faz
todo o sentido, pois está aqui documentada a mais recente vinda do saxofonista
barítono (aqui apenas em tarogato, instrumento de sopro similar ao clarinete –
ainda que mais estridente – e originário da Hungria) ao nosso país e à nossa
capital. Aquele que é um dos grandes pioneiros da livre-improvisação em
Londres, ao lado de gigantes como Lol Coxhill, Evan Parker e Paul Rutherford,
vem colaborando desde 2008 com o poeta português Miguel Martins e a sua vinda
em Setembro de 2019 foi para uma sessão de música e poesia com o autor e declamador.
O dia que, por cá, tinha livre foi aquele em que Mário Rua (baterista com quem
gravou o álbum em duo “Maresia”, de 2014), Pedro Castello Lopes (percussionista
que conhecera no MIA em 2017) e o contrabaixista João Madeira o levaram para
estúdio. O resultado está aqui, editado pela própria editora de Haslam, a Slam
Records.
A primeira improvisação, “Ajuda”, não podia estar mais próxima da
matriz free jazz de que George Haslam provém, chegando a parecer algo que
poderia ter saído da “loft generation” nova-iorquina. Já “Nice to Meet You”
(provavelmente dirigida a Madeira, que tem honras de solo na faixa e é
apresentado como um «novo amigo») entra em pleno nos domínios da música
improvisada, espraiando-se em mais de 18 minutos de desconstruções de motivos,
sempre com as combinações do tarogato e do contrabaixo como vórtices de acção.
“Who Are You?” é levado pelos músicos portugueses para terrenos ainda mais
abstractos, mas Haslam deambula pelo meio com uma abordagem melódica e
acentuadamente “bluesy”, como que num jogo de reconhecimento e alheamento.
“Pleasures and Needs”, o fecho, é uma peça mais concentrada, e dir-se-ia até
que com uma estrutura previamente estabelecida (pelo menos para o que acontece
nos primeiros minutos), nela sendo de destacar o trabalho percussivo de
Castello Lopes. Um CD que, nestes tempos de difícil desconfinamento, funciona
como um «Haslam, volta, estamos à tua espera para mais uma».
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