Deixem-me envelhecer sozinho,
no silêncio intermitente dos grandes foliões,
com a tepidez dos livros forrados a pelica
(ou mesmo a napa),
para afugentar os que neles procuram princípios,
riquezas
ou meros deslumbres pirotécnicos,
não entendendo que o fio de Ariadne é apenas um pentelho,
um enorme pentelho ruivo,
que não conduz a parte alguma
e, por isso, torna a vida merecedora de ser vivida
e morrida
com iguais doses de lucidez,
indiferença
e prazer.
Só o minete
(o verdadeiro,
frente e verso
e da cabeça aos pés
de uma mulher com frente
e verso
e cabeça
e pés)
ilumina o mundo como um incêndio na casa da infância
ou o estertor sorridente de um animal cansado.
O resto é sumaúma com que encher os dias,
a ciranda
entre as águas-furtadas e os subterrâneos
de um prédio de segunda habitação
que, por motivos de falência,
ficou para sempre em estado esqueletal.
Miguel Martins
23/04/23
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