terça-feira, 2 de maio de 2023

 

Cotejando misérias e grandezas,

ao velho branco as segundas ficam, quase sempre, confinadas

a feitos pretéritos, acabados

(ontem,

há uma década,

no Império Romano),

ao passo que os  verdadeiramente pobres,

as mulheres,

os jovens,

parecem sempre animados por qualquer urgência vital,

seja o almoço,

as mãos

ou, simplesmente, a fuga

rumo a qualquer outra presença à mesa dos bichos.

 

Mas (também ontem,

há uma década

ou no Império Romano)

quando éramos mais pobres,

porventura andróginos,

certamente sem pelos nas orelhas

(pobres infantes de destino já cavado!),

ao escrevermos tratados,

gerarmos proles,

construirmos muralhas,

fizémo-lo em busca de memória futura.

 

Então, de que nos queixamos, afinal?

Então, porque não estouramos, lantejoulas?

Porque o jovem branco,

o antevelho branco,

faz o caminho inverso     

                        do que de vai de lagarta a borboleta.

e fá-lo de maneira — histórica e geneticamente —

                        responsável.

 

Como quem vai comprar e vender Estrabão

à grande pecuária do degredo próprio.

 

Miguel Martins

02/05/23

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