agora
que tatuaste no interior das pálpebras
uma oblonga ave migratória
podes sentar-te diante de uma parede cega
e sentirás a relva à beira rio
humedecer-te as costas
num fim de tarde sem trabalhos nem fim
podes vir ter comigo
tomar um chá de jasmim
na 紫禁城[1]da dinastia ming
sem temer que algum soldado do imperador
estranhe a minha pele e o teu vestido
e com excesso de zelo
perturbe o nosso idílio
podes até descansar o coração
numa almofada de brocado
e dizer aos arcanjos que não tenham pressa
que não tarda passarão
vindas da escola
trinta e cinco raparigas em chukudus[2]
entoando a paixão
segundo são mateus
e o seu esplendor será toda a redenção
que há tanto os bichos nos tentam ensinar
(dos anelídeos na lama ao maior dos primatas)
e que todos os seus sons são agora a planície
onde aprendeste a viver sem algoritmos
a nossa eternidade em cada instante
Miguel Martins
13/08/24
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