sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Lá porque visito muitas vezes a mesma cidade

e a encontro, mais ou menos, no mesmo sítio,

com a mesma aparência,

os mesmos tiques de urbe sobreposta a si mesma,

devo acreditar que ela, de facto, existe,

que não é um produto da minha imaginação

como um salmonete e as suas traduções em várias línguas,

um professor, um amigo ou um inimigo?

Aos 54 anos, já não me deixo ludibriar a mim mesmo,

sei que cada rua, cada ataque bombista,  

cada manete de mudanças

estão ao serviço do grande conluio internacional

da minha insensatez. E sei mais:

cada placa de indicação de uma localidade,

cada sirene para o almoço numa fábrica,

cada dobre de finados

são riscos na parede da minha cela,

do meu cérebro alucinado como um gavião.

 

Miguel Martins

13/09/24

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