Lá porque visito muitas vezes a mesma cidade
e a encontro, mais ou menos, no mesmo sítio,
com a mesma aparência,
os mesmos tiques de urbe sobreposta a si mesma,
devo acreditar que ela, de facto, existe,
que não é um produto da minha imaginação
como um salmonete e as suas traduções em várias línguas,
um professor, um amigo ou um inimigo?
Aos 54 anos, já não me deixo ludibriar a mim mesmo,
sei que cada rua, cada ataque bombista,
cada manete de mudanças
estão ao serviço do grande conluio internacional
da minha insensatez. E sei mais:
cada placa de indicação de uma localidade,
cada sirene para o almoço numa fábrica,
cada dobre de finados
são riscos na parede da minha cela,
do meu cérebro alucinado como um gavião.
Miguel Martins
13/09/24
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