Mas também há os que,
entre o tranquilo
e o demoníaco, prescindem
do cérebro
e do proverbial
coração e sonham com a
caixa torácica, não
deixando espaço para o
ar; os que, imprevidentes,
desprevenidos,
lançaram as sementes
de uma seara indómita,
de uma espécie
invasora e incomestível,
que, com ou sem
vento, parece rir de tudo e
com cujos grãos
crianças, tímidas ou cruéis
(vá-se lá saber…),
decoram máscaras de um
carnaval sem data e
vão pregá-las às portas
das suas casas de
madeira arruinada. Isto
não se passa no
Midwest americano nem
num filme de terror —
passa-se aqui, enquanto
escrevo estas
palavras para pedir piedade
ou impressionar os
mais sugestionáveis,
na esperança de uma
esmola de água ou luz
ou carne-só-carne ou
filosofia capaz de saciar
a escuridão
espiritual dos néscios com bornal
a mais para os fracos
ombros; passa-se na
duração de uma vela
de cera branca, tímida
ou cruel (vá-se lá
saber…), a que parece que
se chama vida e que,
um dia, não muito perto,
não muito longe,
há-de chegar ao fim sem
nunca ter incendiado
uma cidade nem
alumiado a pena e o
pergaminho de um
anacoreta a quem
bastasse estender os magros
dedos para tocar a
placenta do segredo mais
invernal de todos
os segredos — o que
está guardado no
pequeno baú de tampa
soldada que, desde
sempre, todas as mães
escondem no fundo do
guarda-fatos da casa
de campo que não têm
nem terão e,
provavelmente, por
serem mães e, logo,
menos assombradas que
os demais, esconjuram
como exorcizam a
razão, que vem do nada e
vai, aos tropelões, para
nenhures, trôpega barca
condenada às escarpas
da demência,
a minha,
esta,
aqui.
Miguel Martins
10/12/24
Gosto! E Muito!
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