Figura muito presente na cena lisboeta nos últimos tempos, o
contrabaixista João Madeira tem-se afirmado como instrumentista e improvisador,
mas também como promotor e impulsionador; ao leme da editora 4DaRecord, já
publicou discos marcantes como “Trips and Findings” de Sofia Borges, “Da
Erosão” de Bruno Parrinha, “Glossolalia” d’A Favola da Medusa e “Multiple
Visions of the Now” do quarteto Pink Monads (Edith Steyer, Céline Voccia,
Marialuisa Capurso e Sofia Borges). E desde junho deste ano vem organizando o
ciclo de concertos Acasos ao Ocaso na Oficina das Artes (na zona da Ajuda, em
Lisboa), sempre ao domingo, ao final do dia. Na mais recente proposta da
4DaRecord, “Trizmaris”, assistimos ao encontro musical de João Madeira e Sofia
Borges com Carlos “Zíngaro”. O veterano “Zíngaro” é figura muito regular aqui
na jazz.pt não só por se tratar de um pioneiro da improvisação livre europeia,
mas sobretudo porque continua, hoje em dia, a ser dos mais brilhantes e
imaginativos improvisadores da atualidade, hábil na composição em tempo real,
além de uma fenomenal capacidade reativa à construção sonora dos seus
parceiros. O histórico violinista entra aqui em jogo com João Madeira, no
contrabaixo, e Sofia Borges, na bateria e percussão. Dividido em quatro peças
(entre os 7 e os 17 minutos), este registo documenta uma atuação do trio no
espaço BOTA, em Lisboa, a 16 de março de 2023. “Zíngaro”, Madeira e Borges
tratam de desenvolver a composição em tempo real, pela interação entre si. Se o
violino de “Zíngaro” é muito ativo a dar ideias e ir alicerçando o caminho, o
contrabaixo de Madeira não para de reagir e dialogar; a percussão de Borges
está muito atenta, não só reativa, mas também ativa a propor ideias, apontando
muitos caminhos. Violino, contrabaixo e percussão trabalham uma interação
musical muito dialogante, num encontro feliz.
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