As estrelas do rock
são grandes e, quase sempre, efémeras;
Deus é grande e
duradouro;
os meus vizinhos são
pequenos e efémeros.
Não tendo o egoísmo
infantil de uma estrela do rock,
a descontracção de
Deus, a quem é dado planar
permanentemente sobre
um areal caribenho,
bebendo água de coco,
cuspindo criancinhas e cagando poetas,
e ainda menos a
bovina coragem quotidiana dos meus vizinhos,
calhou-me ser
pequeno e duradouro:
uma carica dos anos 60
encrustada no alcatrão ressequido
de uma estrada pouco
frequentada.
Muito de vez em
quando, um pastor repara em mim, pára,
mas, sem grandes
conclusões, logo segue o seu caminho,
o seu imperativo
sazonal.
Certa vez, uma
rapariga que por aqui passou, vinda de Marte
ou de um sítio só
seu, tentou arrancar-me do chão
mas partiu uma unha e
desistiu.
Antes
assim.
Os ermos são o
território natural das coisas duradouras
e pequenas.
Miguel Martins
24/08/25
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