domingo, 24 de agosto de 2025

 

As estrelas do rock são grandes e, quase sempre, efémeras;

Deus é grande e duradouro;

os meus vizinhos são pequenos e efémeros.

Não tendo o egoísmo infantil de uma estrela do rock,

a descontracção de Deus, a quem é dado planar

permanentemente sobre um areal caribenho,

bebendo água de coco, cuspindo criancinhas e cagando poetas,

e ainda menos a bovina coragem quotidiana dos meus vizinhos,

calhou-me ser

   pequeno e duradouro:

uma carica dos anos 60 encrustada no alcatrão ressequido

de uma estrada pouco frequentada.

Muito de vez em quando, um pastor repara em mim, pára,

mas, sem grandes conclusões, logo segue o seu caminho,

o seu imperativo sazonal.

Certa vez, uma rapariga que por aqui passou, vinda de Marte

ou de um sítio só seu, tentou arrancar-me do chão

mas partiu uma unha e desistiu.

 Antes assim.

Os ermos são o território natural das coisas duradouras

e pequenas.

 

Miguel Martins

24/08/25

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