Exmos. Senhores,
Ontem, estando em casa, o carteiro meteu-me na caixa de correio um aviso para ir buscar duas encomendas à estação. Falei com ele e disse-me que, doravante, será assim. O que, claro está, é, desde logo, manifestamente prejudicial aos utentes, onde quer que se encontrem, mas pior quando não morem perto da estação.
Hoje, dirigi-me à estação, que é um cubículo dentro de uma Junta de Freguesia e onde se encontrava apenas uma funcionária, coitada, e uma aglomeração considerável de utentes que, como eu, desejavam receber encomendas (havia também uma grande fila para a comida caritativa, apercebi-me depois).
Na parte de trás do referido cubículo, as encomendas postais amontoavam-se aos centos, desorganizadas e, logo, inacessíveis. Quanto às do dia anterior, como era o caso das minhas, não lhe tinha, sequer, sido "dada entrada" (expressão usada pela dita funcionária e que se reporta, certamente, a um qualquer processo burocrático-electrónico).
Pediram-me que voltasse passada uma hora, o que fiz. Mas... ainda não, e não me sabiam dizer quando; que voltasse à tarde ou no dia seguinte.
Ora bem (melhor, ora mal): fazem ideia do tempo, do trabalho e da paciência que se perde com isto? Para quem receba muitas encomendas, é insustentável.
E tudo isto porquê? Porque o Estado, que devia assegurar estes e outros serviços, se lembrou de vendê-los a empresas que têm como objectivo o lucro e não a satisfação dos utentes. E a estas parece-lhes bem e, com o nanismo mental a que preferem chamar estratégias de gestão, multiplicam os seus maravedis às custas do interesse público.
(Aliás, aposto que, enquanto eu estava na fila, algum dos grandes acionistas dos CTT estava num resort saloio a fazer coisas supostamente boas para a saúde.)
Numa perspectiva mais ampla: o serviço de correios, como muitos outros, será tanto melhor quanto mais prejuízo der. Os CTT não devem ser um banco, nem uma livraria, nem outra coisa qualquer dessas em que se tornaram. Devem distribuir correio e fazer o que sempre fizeram, sem pensar em dinheiro.
Mais uma vez se prova: a propriedade privada conduz ao mal colectivo. O individualismo é a conceptualização de uma estupidez profunda que se julga esperta. Quem pensa primeiro em si e nos seus é prejudicial à sociedade e deveria ser, por todos os meios, maniatado.
Estando este objectivo distante, numa sociedade com 90% de carneiros, 9% de larápios (por vezes os grupos confundem-se, mas, em todo o caso, são ambos incapazes de interiorizar qualquer conceito que extravase a vidinha) e, na melhor das hipóteses, 1% de pessoas abnegadas, resta-me deixar-vos o seguinte trinómio sugestivo: 1) reabram as estações que fecharam; 2) contratem muito mais pessoal e paguem-lhe decentemente; 3) voltem a entregar a porra das encomendas em casa das pessoas.
Com os meus mais sentidos pêsames pela morte lenta da vossa instituição e, apesar de tudo, com um chi-coração pós-natalício, subscrevo-me, muito atentamente,
De V. Exas.,
Miguel Martins
(um cidadão que precisa de livros para trabalhar e não há meio de tê-los na mão; os livros, entenda-se)
Aconteceu-me o mesmo. A carteira (coitadinha), veio com o seu carrinho de compras cheio de contas das águas, dos cabos,dos telefones, e das electricidades... entrega-me um talão, já preenchido, para levantar uns livros aos correios... quando de livraria e porta aberta pergunto-lhe e então não entregam livros agora? Ela na concisão dos manietados lá proferiu em tom de desabafo: "São ordens".
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