Não é a "semelhança" que lhe interessa; é a diferença, é a singularidade do outro. Maigret recria, portanto, pouco a pouco, a personagem que persegue. O seu famoso método não é nem dedutivo, nem indutivo, nem intuitivo; na realidade, ele não tem método ou, melhor, o seu método é o do romancista; trata-se de um método de criação e não de investigação; um método de invenção e não de inquérito. Através de Maigret, Simenon faz existir seres prodigiosamente concretos. Maigret só se encontra lá como ilusão de óptica. Temos a impressão de que ele descobre a verdade; mas a verdade de Simenon confunde-se com a própria vida. Descobrir a verdade é, para Simenon-Maigret, dar o último retoque a uma personagem, cortar o cordão que a liga à imaginação-mãe e contemplá-la, pela primeira vez, "à distância", na sua nudez de objecto.
Thomas Narcejac
(tradução: Miguel Martins)
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